Coloco a cabeça no travesseiro e começo a viajar por terras antes nunca vistas se não por fotos e vídeos. Tudo é diferente, novas paisagens, novos lugares, novas cidades, entro e saio de aviões que me levam a lados nunca antes visitados. Países, cidades, bairros... tudo novo! Ao meu lado um vulto me acompanha em cada parada, em cada viagem. Um vulto disforme, que parece querer se mostrar mas ao mesmo tempo se mantém escondido na sombra, dando ao sonho um ar de mistério. Passeando por um parque vejo vários grupos de pessoas que alegres cantam, conversam e brincam. Passo por elas e vejo que sou notado, mas aquele vulto que me acompanha parece não existir pra quem me vê, é como se somente eu pudesse ver aquele vulto, ainda que eu não pudesse decifrava quem se escondia naquela sombra. Os lugares maravilhosos por onde eu andava faziam com que eu não quisesse perder tempo tentando descobrir quem era aquela figura que me intrigava e ia me acompanhando a todos os lados. Foi então, no corredor de um museu qualquer, que descobrir quem era aquele vulto que me acompanhava por todos os lugares onde estive.
Parecia ser o museu mais idiota de todos os lugares por onde passei, simples, sem grandes obras, sem pinturas famosas, sem expressão, mas ainda assim muito visitado. Entrei no prédio e descobri que não existiam salas nele, apenas um corredor, que ia da entrada ao fim do museu, sem curvas nem entradas auxiliares, apenas um enorme corredor muito escuro e onde havia apenas um quadro exposto. Em frente ao quadro havia apenas uma pessoa. Parecia ser uma mulher baixa e de cabelos cumpridos. Fiquei observando de longe aquela pessoa que parecia querer mergulhar dentro daquele quadro, não sei quanto tempo esperei até ela sair dali e permitir que eu me aproximasse daquele quadro que me atraía mesmo sem eu saber o que nele estava pintado, justo eu que nunca fui, e não sou, uma pessoa muito interessada por museus e pinturas, me via agora tomado por um sentimento de êxtase e tensão. A cada passo em direção ao quadro parecia que meu corpo tremia mais e o quadro parecia ficar mais longe ao invés de mais próximo. Quando finalmente cheguei em frente ao quadro levantei a cabeça e mirei o fundo do corredor. Vi aquela pessoa que estava em frente ao quadro abanar para mim com um sorriso no rosto, como se dissesse até a próxima. Então fechei os olhos e me virei de frente para o quadro. Abri os olhos lentamente e fui tentando decifrar o que havia naquela tela. Em um primeiro momento a tela parecia estar em branco, sem um rabisco se quer. Porém conforme meus olhos abriam e minha cabeça viajava várias imagens se formaram naquele quadro. No melhor estilo Harry Potter as imagens pareciam ter vida. Pessoas passavam, entravam e saiam, algumas ficavam mais tempo, outras passavam rapidamente. Em alguns momentos via a tela lotada de pessoas, se tornando quase impossível ver todos os rostos e em outros momentos me via sozinho no meio daquele quadro, deitado na cama, dormindo profundamente. Foi então que comecei a entender o que havia naquele quadro... ele não tinha um pintor nem uma pintura. Era uma tela eternamente em branco onde eu podia ver meus sonhos pintados por mim mesmo. Então passei a desfrutar ainda mais daquele momento. Revivi sonhos do passado, recordei sonhos que se tornaram realidade, encontrei sonhos que foram abandonados no meio do caminho e vi sonhos perdidos... sonhos roubados... Vi que em alguns sonhos que antes eram meus já não era eu quem figurava como personagem principal. Pessoas ocupavam meu lugar, em muitos desses sonhos isso não me afetava pois tudo respeitava o chronos. Porém em um dos últimos sonhos vi o quadro ganhar outros tons. Saíram os tons pastéis e as cores alegres que dominavam todos os sonhos até então e surgiram tons pesados e escuros, como se aquele sonho não estivesse na mesma frequência dos sonhos que eu já tinha visto até então. Aquela imagem pesada fez eu tirar os olhos do quadro por alguns segundos. Olhei para os lados. Na entrada do corredor outras pessoas esperavam para ver o quadro, no final do corredor apenas uma luz que indicava a porta de saída. Pensei em sair correndo e não ver o que se escondia nas imagens que estavam por vir. Mas quando pensei nisso senti aquele vulto me agarrar e fazer eu encarar o quadro novamente, sem fugir do que estava por vir.
Voltei-me para o quadro novamente e pouco a pouco a imagem foi clareando, pessoas foram tomando forma. Logo vi que conversava com uma pessoa que não me era estranha. Logo identifiquei. Era aquela pessoa que observava o quadro antes de mim. Parecia uma conversa agradável. Muitas risadas, ambos alegres e curtindo aquele momento. Porém repentinamente vi minha expressão facial mudar. O sorriso deu lugar a uma cara de tristeza, senti o coração apertar muito forte, como se fosse comprimido por algo muito pesado. A mulher com quem conversava parecia não entender minha reação pois seguia alegre, embora confusa, alegre. Com aquele aperto virei as costas e sumi do meu próprio sonho. No mesmo instante vi outras pessoas se formarem naquela imagem. Pessoas que se quer conhecia e que agora tomavam conta do que até então era um sonho meu e daquela mulher com quem eu conversava. Vi ela me chamar, mas eu já não estava mais lá. Naquele instante fechei os olhos tentando apagar aquele sonho da minha cabeça, não consegui. Voltei a encarar a tela. Já não estavam mais lá aquela mulher nem aquele grupo de pessoas. Era eu e o vulto. Mas já não era apenas um vulto, eram muitos vultos. Pouco a pouco todos foram ganhando rostos, corpo, vida! Vi naqueles vultos pessoas com quem jamais havia sonhado, mas que faziam parte da minha realidade. Pessoas que me apoiaram na hora em que quis sair correndo mais uma vez e me mostraram a necessidade encarar a realidade e partir em busca de novos sonhos... meus sonhos!
Mana... um daqueles muitos vultos!
Em tempo...
- Fico feliz a cada vitória, a cada conquista daquelas pessoas que gosto. Não foi diferente naquela conversa. Fiquei mesmo feliz... realiza teu sonho! Seja feliz! "Brilha onde estiver..." :D
- Antes de fazer dos outros uma decepção, é saudável tentar entender o que se passa no momento dos outros.
- Sei que alguns amigos devem estar pensando nesse momento que baixei a guarda novamente. Não baixei, apenas precisava colocar pra fora o que ainda estava pesando.