quinta-feira, 24 de junho de 2010

A competição...


Depois de longos anos longe do dojo, se viu de volta aos treinamentos, passou alguns meses treinando. No começo tudo parecia mais difícil do que era. A perna estava mais pesada, os braços pareciam não ter a mesma velocidade, os movimentos todos pareciam estranhos, seqüências esquecidas, aquecimentos pareciam tortura, o kimono parecia 10x mais pesado que o normal, pulmões? parecia que tinha um só. Com o passar das semanas foi reencontrando a velha forma. Aos pouco recuperou a velocidade dos braços, sentiu suas pernas ficarem leves novamente e já passava pelo aquecimento fácil. Mas ainda faltava recuperar a auto-confiança, e essa era a parte mais difícil. Na prática já estava tudo voltando aos níveis do passado. A técnica já era a mesma dos anos em que treinava todos os dias e competia todos os meses. Forma física ideal, técnica 100% e surgem as primeira competições. Recusou os dois primeiros convites, disse que achava não estar pronto para encarar as competições novamente. No terceiro convite não teve escolha, aceitou e foi! Aproveitou que era um campeonato pequeno, pouco compromisso, e achou o ideal para ir se readaptando ao clima das competições. Foi uma ótima competição, conseguiu um bom resultado e pode sentir a auto-confiança voltando aos poucos. Participou de mais duas competições de mesmo nível. A cada competição melhorava seu desempenho e aumentava sua auto-confiança. Depois da terceira competição retomou os treinamentos com uma dedicação ainda maior, tinha recuperado sua auto-confiança e já mirava algo maior, queria mais do que tinha conseguido até aquele momento.
Quando surgiu a oportunidade não pensou duas vezes, inscreveu-se assim que chegou o convite. Faltavam algumas semanas para a competição, sabia que o desafio ia ser grande, mas já esperava por aquele momento. Depois de algumas competições leves e sem compromisso era hora de ir ao encontro de algo maior, algo que daria ainda mais sentido para a sua volta ao karatê. Foram semanas de treinos intensos, vários turnos, treinos puxados, treinamentos físicos e técnicos. Em paralelo a isso recordava a cada dia que estava ainda mais próximo o dia da competição, e buscava firmar ainda mais sua auto-confiança! Faltando dois dias foi invadido por uma insegurança... começou a questionar a sua capacidade de encarar aquele desafio, se estava mesmo preparado para ir ao encontro de uma competição tão grande, tão importante... sentiu seu corpo tremer, o coração parecia que ia sair pela boca e por alguns instantes quis desistir de tudo. Pode recordar as primeiras competições, as primeiras viagens, sentiu coisas que achou que não sentiria mais depois das primeiras competições. Foi então que buscou ajuda nos amigos, na irmã e na psicóloga. Precisava saber o que fazer diante daquela situação que não era esperada por ele, pois sua auto-confiança estava muito firme até ali. E neles conseguiu o apoio necessário para não parar por ali, afinal vinha treinando forte, tinha plantado um bom trabalho e agora precisava colher os frutos daquele trabalho.
O celular desperta, não faz diferença, ele não tinha dormido mesmo. A tensão era tanta que passou a noite em claro. Levantou da cama, tomou um banho, vestiu o abrigo e conferiu a mochila. Estavam lá o kimono e a faixa, prontos para mais uma viagem e um dia de competição. Embarcou no ônibus e foi cumprimentando todos que lá estavam. Sentia uma sensação estranha, uma mistura de ansiedade com insegurança. Afundou numa poltrona, colocou os fones no ouvido e deixou a música rolar. Naquela playlist tocavam todos aqueles pagodes e algumas coisas mais... o ônibus começou a andar e aos poucos os olhos dele foram se fechando. Caiu em um sono tão profundo que quando acordou já estava em frente ao ginásio. Desceu do ônibus e sentiu seu corpo invadido por uma onda de calor que fez ele se animar e acordar. Entrou no ginásio e viu as arquibancadas lotadas. Caminhou em direção ao vestiário em silêncio. Os fones ainda no ouvido faziam ecoar a batida do rebolo e deixavam o ginásio mudo. Entrou no vestiário, achou um canto e colocou o kimono lá, sem falar com ninguém. Buscava uma concentração há muito tempo perdida. Saiu do ginásio e sentou junto ao pessoal da equipe. Tirou os fones, trocou umas palavras com uns e outros, reencontrou velhos conhecidos e esperou a chamada da sua categoria. Quando ouviu seu nome no sistema de som ele tremeu. Catou rapidamente os fones de ouvido, colocou no ouvido e desceu em direção a quadra de competição. No meio do caminho trocou a playlist, saiu do pagode e colocou um Raimundos. Sentiu os níveis de adrenalina subirem, a auto-confiança que estava abalada foi se reconstruindo e ele entrou na quadra sabendo que podia sair dali com o primeiro lugar. Competição tensa, a cada nova rodada, novas surpresas, novos adversários, e aos poucos toda tensão foi embora... até chegar na rodada final, e essa pareceu não ter fim. Rodada por notas, apenas os 5 melhores. Os juízes foram chamando um a um, em ordem alfabética. Ele ficou por último.  Sabia quem seria seu maior concorrente, e esse era o primeiro a entrar no dojo. Como já era esperado emplacou boas notas e não foi superado pelos próximos três adversários. Faltava só o último. Via-se na cara do primeiro um ar de quem tinha tudo sob controle a vitória nas mãos, afinal o último era novo na competição, jamais tinha estado por ali. Mas nem sempre as coisas correm como o esperado e o novo pode trazer surpresas. Ele entrou no dojo e todo ginásio sumiu da sua visão. A cada movimento ele via apenas adversários, a cada ataque, a cada defesa, via apenas adversários sendo projetados ao chão, sentia seu corpo rígido, base firme, velocidade e respiração trabalhando junto, impacto perfeito. Já no meio de sua apresentação conseguia sentir a possibilidade de vitória mais perto de si. Acabou o seu kata exatamente na marca onde começou. Na mesma hora o ginásio ganhou forma e som novamente. Ouviu o apito do árbitro central e viu os outros juízes levantarem suas notas. Junto com o apito seu coração acelerou, parecia que ia sair voando pela boca, as pernas tremiam ainda mais e a ansiedade chegou em um ponto nunca visto por ele até ali. Segundos que pareceram horas, até que ele ouviu gritos e aplausos, e não eram de onde ele esperava, mas vinham da academia do primeiro adversário a entrar na quadra. Naquele momento a tristeza se abateu sobre ele e parecia que tudo perdera o sentido. Saiu da quadra cabisbaixo e teve vontade de entrar direto no ônibus para voltar pra casa. Subiu os degraus da arquibancada e quando parecia que nada mais faria daquele dia um bom dia foi surpreendido por um beijo. E aquele beijo valeu muito mais do que qualquer troféu de competição.




Em tempo:
- Raimundos é uma baita pedida pra levantar o astral!
- Skype é uma revolução!
- Manhã improdutiva ao extremo!
- #prontoFalei hoje!!!
- tempinho murrinha... vontade de ficar em casa a tarde toda!
- um salve pra gurizada de ontem!