quarta-feira, 2 de junho de 2010

9 meses...

Queria muito cumprir minha palavra e ir dormir cedo, conforme havia prometido pra família, mas minha cabeça e meu coração inquietos me faziam ficar acordado. Sem conseguir esvaziar meus pensamentos e adormecer optei por escrever, precisava escrever.
Esta inquietação surgiu após saber de uma visita que esteve em casa quando eu estava fora. Um comentário por ela feito, e pela minha mãe repetido, foi o suficiente para me deixar um pouco perturbado, para mexer em um cantinho que estava bem quieto. Disse minha mãe que aquela visita chegou, parou no balcão e fez a seguinte observação: "Ontem fizeram 9 meses!". Ah... o maldito chronos! O tempo cronológico, aquele que dita o ritmo de  nossos dias e marca as horas de nossos compromissos é o mesmo que muitas vezes aumenta nosso sofrer ou nossa alegria em determinados dias, quando através dele recordamos com maior intensidade algum acontecimento, seja ele bom ou ruim, por mais que seja lembrado diariamente, sempre tem aquele dias específico onde tudo ganha maiores proporções. 
Após ouvir a mãe contar sobre a visita, e as coisas que ela falara, mergulhei em um mar de recordações. Busquei em todos os cantos as memórias que tinha daquela pessoa que ontem fazia 9 meses que já não estava mais junto de mim. Incrível como o tempo cronológico passa rápido, mas não apaga as memórias e os sentimentos, não apaga os momentos de kayros de nossas vidas. Quando me vi mergulhado neste mar, me deparei com o meu bom e velho baú de memórias
Fuçando o baú encontrei muitas coisas, algumas que nem lembrava mais, como meu primeiro LP de música de gente grande! Era um LP do Engenheiros do Hawaii que ela me deu porque eu vivia tentando cantar "Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones"! Por lá também encontrei lembranças dos verões que passamos na praia, dos churrascos, das brincadeiras, dos jogos de carta. Da vez que briguei com o pai no dia do Natal e foi ela quem conseguiu colocar ordem na bagunça. Do tempo em que ficamos distantes, até o dia em que a mãe falou com ela no telefone enquanto eu chorava de alegria na porta do corredor. Ainda no baú encontrei dezenas de pudins de leite e brigadeiros de panela, pudins que eu sei que jamais comerei um igual. Mas não só de boas recordações vive um Baú de Memórias. Encontrei também lembranças não tão saborosas. Recordei as poucas visitas que fiz pra ela quando estava no hospital, lembrei como fui pouco na casa dela, como fui pouco presente quando ela mais precisava... e mesmo assim ela sempre me recebeu com um sorriso incomum, um sorriso de madrinha! Quando estava me despedindo do Baú me vi naquele cemitério, carregando o caixão que encerrava o corpo daquela mulher que soube, como ninguém, viver a palavra amor!
As lágrimas que agora enchem meus olhos não podem refazer as coisas, não podem me fazer mais presente ao lado dela, pois tudo isso já passou. Ainda assim deixo elas escorrerem pelo meu rosto, pois correm como água que limpa, que manda embora as más recordações, deixando em primeiro plano apenas aquelas coisas que valem mesmo a pena guardar: o carinho, a atenção, o abraço apertado, a alegria, as brincadeiras, os bons momentos, o amor... amor que nunca faltou, nem pra mim nem pra ninguém que estivesse a volta dela.
Enquanto escrevia este post meu celular tocou. Tinha combinado de ir pra noite com meus colegas... mas desde que cheguei em casa nada favoreceu. Sei que eles devem estar de cara, me enchendo de elogios, mas hoje não dava mais para sair. O banho quente, o frio da rua e as recordações conspiraram contra qualquer festa ou saída de casa. Quero apenas deitar a cabeça no travesseiro, rezar e mergulhar em um sono profundo, onde eu possa me refazer do cansaço do dia e das tristes lembranças da noite. Acordando pronto para um novo dia e com a cabeça tomada por boas recordações e motivação para fazer da quarta-feira um dia diferenciado!